Presidente da CBIC aborda desafios e perspectivas do setor da construção no Brasil

Presidente da CBIC aborda desafios e perspectivas do setor da construção no Brasil

Renato Correia discute financiamento, inovação, mercado imobiliário e sustentabilidade, revelando ações realizadas para impulsionar o desenvolvimento da categoria.

 

Neste mês, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, concedeu uma entrevista exclusiva à Aconvap, com uma análise profunda dos desafios e perspectivas enfrentados pela indústria da construção no Brasil. Em um cenário marcado por questões cruciais como financiamento, inovação, mercado imobiliário, sustentabilidade, demanda por infraestrutura e habitação, Correia oferece insights valiosos sobre como a CBIC está enfrentando esses desafios e contribuindo para o desenvolvimento do setor.

Um dos principais desafios enfrentados pela indústria da construção é a questão do financiamento, tanto privado quanto público, para enfrentar o déficit habitacional e manter o mercado imobiliário aquecido. Além disso, a oferta e capacitação da mão de obra e a necessidade de um ambiente de negócios mais favorável são temas urgentes. Em relação à inovação, a CBIC está atuando como um canal de difusão de informação, promovendo iniciativas como o projeto Construção 2030 e o Prêmio de Inovação e Sustentabilidade. 

Quanto às perspectivas para o mercado imobiliário, Correia ressalta o potencial de expansão do setor e a necessidade de aumentar e ampliar as opções de financiamento. No campo da sustentabilidade e responsabilidade social, a CBIC está focada em energias sustentáveis, descarbonização e desenvolvimento social, buscando engajar o setor da construção nessa direção. 

Por fim, Correia destaca as oportunidades de investimento e desenvolvimento no setor, lideradas tanto pelo setor privado quanto pelo público, e os impactos da urbanização e crescimento populacional nas demandas por infraestrutura e habitação, ressaltando a importância de políticas e investimentos adequados para enfrentar esses desafios.

 

Confira a entrevista:

Quais são os principais desafios enfrentados pela indústria da construção no Brasil atualmente?

R.C. – Nosso setor enfrenta desafios em diversas frentes. Uma delas é a questão do financiamento, tanto privado quanto público. Uma das nossas preocupações é fomentar mecanismos que aumentem a oferta de crédito para produção e aquisição de imóveis, por exemplo, para enfrentar o déficit habitacional e manter o mercado imobiliário aquecido. A retomada do investimento, na habitação e na infraestrutura, é um desafio de grande envergadura para o Brasil, em que o setor da construção tem grande contribuição a dar, mas precisa de um ambiente de negócios mais favorável, com segurança jurídica e previsibilidade. Outro desafio é a oferta e capacitação da mão de obra, questão que está na nossa agenda estratégica e preocupa as empresas do setor. A construção é um segmento da indústria com geração intensiva de empregos e isso é muito importante para a economia brasileira. A CBIC tem discutido iniciativas que possam reverter esse quadro de escassez de mão de obra, de forma a estimular a chegada de mais profissionais ao setor. A construção é uma atividade essencial para a vida das pessoas, mas essa importância ainda não é bem percebida. É um traço histórico da atividade e dos profissionais do setor. Isso tem levado a uma fuga de novos talentos e precisamos enfrentar esse desafio, especialmente com iniciativas que agreguem à atividade o valor que ela tem. Um outro tema muito importante para o nosso setor nesse ano é a regulamentação da reforma tributária, uma reforma importantíssima para o país e que terá efeitos sobre toda a economia. Nós estamos acompanhando esse tema de perto.

 

Como a CBIC está trabalhando para promover a inovação e a adoção de novas tecnologias no setor da construção?

R.C. – A CBIC é um canal de difusão de informação e essa é uma missão estratégica que abraçamos: produzir e buscar conhecimento qualificado para manter o setor alinhado às melhores práticas e antenado com as tendências, de forma a estimular a absorção de novas tecnologias e inovação. Para isso, mobilizamos nossas comissões técnicas e desenvolvemos diversas iniciativas e projetos técnicos, com o apoio de especialistas e consultores, sempre olhando para frente. Uma delas é o projeto Construção 2030, que busca traçar o cenário de como será a construção daqui a 10 anos e levar para as empresas as tendências de tecnologia e inovação. A CBIC também realiza o Prêmio de Inovação e Sustentabilidade, como estímulo e reconhecimento às empresas que adotam inovação. O reconhecimento da CBIC é uma alavanca para que a inovação e a tecnologia tenham um desenvolvimento contínuo. Isso mobiliza o setor. Em outra vertente, nós realizamos missões e visitas técnicas para conhecer de perto e trazer para o Brasil experiências bem-sucedidas e novidades em curso nos mercados mais desenvolvidos. Recentemente, uma equipe nossa foi para a Suécia para conhecer o que de mais novo está se fazendo na construção com madeira, que é uma inovação relevante e totalmente sustentável. Essas iniciativas ilustram bem o que a CBIC tem feito na direção da inovação e sustentabilidade.

 

Quais são as perspectivas para o mercado imobiliário brasileiro nos próximos anos, considerando o cenário econômico atual?

R.C. – Em um país como o Brasil, que carrega um déficit habitacional superior a seis milhões de unidades e onde o imóvel é um investimento seguro e com rentabilidade garantida, o mercado imobiliário tem grande potencial de expansão, numa escala que alcança todas as classes sociais. Recentemente, na abertura do 98° Encontro Nacional da Indústria da Construção, o nosso ENIC, a CBIC divulgou um estudo inédito trazendo um diagnóstico do cenário atual e dos desafios futuros do país na habitação e na infraestrutura. Sintetizando o dado mais relevante sobre habitação, quando combinamos o déficit acumulado até 2023 à demanda futura por imóveis novos, em um horizonte de 10 anos o Brasil vai precisar de cerca de 13 milhões de unidades habitacionais. Para dar uma resposta a esse panorama, vamos precisar aumentar e ampliar as opções de financiamento, melhorar o ambiente de negócios e criar condições mais favoráveis de aquisição do imóvel. Grande parte do déficit atual e da demanda futura que mapeamos estão concentradas na população de baixa renda, o que significa dizer que temos, ainda, demanda por habitação nas outras faixas de renda. O mercado imobiliário já é, hoje, um dos motores do setor da construção e a tendência é consolidar esse espaço relevante na indústria. Seu desenvolvimento gera ganhos para a população como um todo, pois para além da conquista do sonho da casa própria e dos efeitos sociais da moradia digna – como qualidade de vida, segurança, etc; temos efeitos econômicos muito nítidos como a geração de emprego formal e renda, aumento na arrecadação de tributos e estímulo a outros setores da indústria que caminham juntos com a incorporação imobiliária.

 

Como a CBIC está contribuindo para a sustentabilidade e a responsabilidade social no setor da construção?

R.C. – É da tradição e missão institucional da CBIC olhar para o setor de forma estratégica e buscar antever os temas e iniciativas que terão impacto não apenas no presente, mas para o futuro. Temos um trabalho continuado, realizado por intermédio de nossas nove comissões técnicas, de produzir e disseminar conhecimento técnico der alta qualidade e credibilidade, mobilizando parceiros e especialistas em diversas áreas para levar às nossas associadas e às empresas do setor não apenas as tendências, mas também as novidades que tenham se concretizado e caminhos para absorver a inovação e dela tirar o melhor proveito em busca de um setor produtivo e moderno. No campo da sustentabilidade, a CBIC tem cumprido uma agenda de vanguarda, focada em energias sustentáveis, descarbonização e uso de materiais como a madeira. Temos realizado estudos e eventos, dentro dos nossos projetos técnicos, para informar e engajar o setor da construção nessa direção, alinhando o Brasil ao debate e às soluções que já ganharam espaço nos países desenvolvidos. Também na responsabilidade social temos reforçado uma agenda que estimula a modernização de nossas entidades e empresas, trazendo temas como o ESG e a pauta da diversidade, por exemplo, sem desfocar do cuidado e apoio ao trabalhador da construção.

 

Quais são as principais demandas e necessidades dos empresários da construção civil atualmente, e como a CBIC está atuando para atendê-las?

R.C. – Uma das principais demandas hoje, para que a gente possa atender o cidadão na infraestrutura e na habitação, é a mão de obra. Existe uma carência de mão de obra e a CBIC enxerga que a solução desse problema passa pela capacitação do trabalhador disponível e o desenvolvimento da atratividade do setor para capturar, conquistar, a mão de obra que está indo para outros setores e, mais importante, avançar com a mecanização da construção, que aumenta muito a produtividade, de forma mais imediata, com equipamentos que já existem e a industrialização, que com o advento da reforma tributária passa por uma viabilidade no Brasil e isso deve acontecer muito rapidamente. O desafio da mão de obra tem esses três estágios. Além disso, nós sempre temos o desafio da segurança empresarial, da segurança jurídica. A CBIC criou um projeto específico focado na segurança empresarial, com que estamos desenvolvendo comparativos nacionais em temas práticos como ligação de energia, água e esgoto, problemas relativos a cartórios, licenciamento ambiental e alvarás. Estamos trabalhando para demonstrar que o excesso de burocracia acaba travando o desenvolvimento, a habitação e a infraestrutura no país. O principal prejudicado é o cidadão que não obtém o serviço a tempo e a hora que precisa.

 

Quais são as oportunidades de investimento e desenvolvimento no setor da construção no Brasil?

R.C. – Quando você considera o que a construção entrega, nosso setor está presente em todas as atividades da economia e na vida cotidiana das pessoas. Seja na moradia, seja no equipamento público – falo de escolas, hospitais, creches, etc; seja na logística e no saneamento, seja nas grandes obras corporativas. Então, são muitas as oportunidades de investimento tanto lideradas pela iniciativa privada, quanto estimuladas pelo poder público. Temos expectativa em que programas como o Minha Casa, Minha Vida; o novo Programa de Aceleração do Crescimento; o Nova Indústria Brasil, do governo federal, continuarão gerando novas obras por todo o país, aquecendo o setor e contribuindo para a geração de emprego e renda. Da mesma forma, a iniciativa privada continuará sua pauta de atuação, buscando crescimento e competitividade, com novas plantas industriais e outras iniciativas que movimentarão o setor.

 

Quais são os impactos da urbanização e do crescimento populacional nas demandas por infraestrutura e habitação, e como o setor da construção civil está respondendo a esses desafios?

R.C. – A urbanização muito acelerada nos últimos 50 anos trouxe uma série de dificuldades relacionadas a habitação e infraestrutura do nosso país, tanto é que nos últimos 15 anos o déficit habitacional está na ordem de seis milhões de habitações e a infraestrutura, como saneamento e rodovias, tem um grau de investimento sempre muito abaixo dos seus principais pares da América do Sul ou do mundo. A CBIC tem feito diagnósticos e pesquisas, como a que recentemente apresentamos no ENIC, apontando qual a necessidade de investimento para que a gente tenha um déficit habitacional zerado e a infraestrutura com o investimento adequado para um país que precisa melhorar a competitividade e qualidade de vida da população. Nós estamos otimistas que com a queda dos juros, a organização de políticas como o PAC, a gente possa sensibilizar a sociedade e os governos para enfrentarmos o problema da habitação e da infraestrutura para termos a população com suas necessidades básica melhor atendidas. Isso também significará gerar emprego e renda de forma intensiva e com qualidade.

Por Aconvap
25 de abril de 2024